terça-feira, 15 de julho de 2014

O borogodó dos gringos

Copa do Mundo, cidades lotadas de gringos e quem é que vai dizer que não tem a menor curiosidade de experimentar os sabores e temperos de outros países?!

A verdade é que o diferente atrai. A gente fica curiosa para saber da cultura, atraída pelo sotaque engraçado, se derretendo por um que tenta falar português - mesmo que saia tudo errado -, e acabamos caindo nos encantos desses gringuetes fofos.

A primeira vez que experimentei um sabor diferente foi lá pelas bandas da África.

Eis que estava eu na aula de italiano quando entra aquele Deus de ébano, todo tatuado de tribais africanas, trança raiz, abdômen sarado e falando um italiano sensual - como se o português com sotaque de Portugal não fosse atraente o bastante. Passamos meses trocando olhares durante as aulas, até que um dia rolou uma palestra sobre cultura italiana no Brasil. Ao fim da palestra eu saí e de repente percebo que estou sendo seguida. Fiquei incomodada, olhei para trás e vi que ele estava atrás de mim. Sorri e continuei andando como se nada tivesse acontecido, até que ele me chamou e disse que precisava falar comigo. Eu parei, sentamos num banquinho e ele falou que era super a fim de mim, que me achava linda e blablabla. Blablabla tão carregado no sotaque que quando eu vi já estava nos braços dele, no meio da UnB, com todo mundo passando e olhando, tipo filme. Ele era de Cabo Verde, filho de diplomata; eu gostava de chamá-lo de Príncipe de Cabo Verde. Ele gostava do apelido, acho que dava uma mexida no ego dele. Nos encontrávamos nas aulas, trocávamos umas frases cheia de segundas intenções, mas nossos beijos calientes só voltaram a acontecer de novo quando nos encontramos em uma festa da UnB. Meu príncipe de Cabo Verde se mudou para Portugal - bom, essa foi a última notícia que tive dele. Sabe lá Deus em que terras ele anda conquistando as moçoilas por esse mundão afora.

Depois de muitos anos apreciando apenas comida caseira, eis que essa Copa nos traz um banquete, um verdadeiro mar de opções para matar nossa curiosidade.

Fui ao estádio no jogo Equador x Suíça e esse meu fraco por loirinhos bateu com força. O suíço do camarote ao lado me arrebatou com apenas um sorriso, mas mandou toda essa minha marra pro fundo do poço, pois não tive coragem de esboçar nem sequer um HELLO. Ainda trocando olhares com o gracinha, conheci um alemão que estava no mesmo camarote. Ele era super gente boa, mas nenhum Deus Grego (ou melhor, Alemão). Disse ficar o tempo todo dentro do quarto onde estava hospedado porque poucas pessoas falavam inglês na cidade e ele não tinha coragem de se aventurar por aí. Pois bem, a minha curiosidade por gringos (na verdade eu tinha muita esperança de ele ser amigo do suíço) e minha hospitalidade brasileira me levaram a convidá-lo para uma cerveja com samba. Trocamos telefones e começamos a nos falar pelo Whatsapp. Marcamos o samba na quarta, porém na terça tinha jogo do Brasil e ele me perguntou se poderíamos assistir juntos. O convidei e falei para ele levar os amigos.

Lá fomos nós assistir o jogo na casa da namorada de um amigo e meu coração acelerado achando que ele iria levar o suposto amigo suíço. Não, eles não eram amigos e ele apenas levou dois amigos gregos. O jogo foi 0x0, mas a cerveja não acabou e nem nossa vontade de curtir a noite. Quando percebemos já estávamos enfiando os gringos em um show do Thiaguinho e eles enlouquecidos (especialmente um dos gregos) com a beleza da mulher brasileira. Um deles repetia que estava apaixonado por todas nós, dizia que não voltaria para a Grécia e queria andar com a bandeira do Brasil para cima e para baixo. Eu, depois de muitas cervejas e pagodes, resolvi beijar o alemão.

Ao contrário dos africanos, os alemães não tem aquela pegada. Well, pode ser que alguns tenham - toda regra tem sua exceção -, mas segundo minha experiência e alguns outros relatos de amigas, a Alemanha, que é tão boa no futebol e na elegância, ficam devendo no quesito pegação. O beijo foi estranho, devo dizer. Sem entrar muito em detalhes, mantive a esperança de que tudo poderia melhorar, pois ainda teríamos 3 semanas de Copa para nos acostumarmos um com o outro.

Foi daí que nasceu uma grande amizade com esse três. Um outro gringo - coreano - se uniu a nós, e de repente estávamos por toda parte com aquela gringada. Os caras eram super divertidos, topavam qualquer parada e amaram nosso jeito brasileiro e meio louco de ser. O grego doidinho se meteu a começar um romance com uma outra brasileira, e seguimos ficando com os dito cujos até o final de sua estada por terras tupiniquins.

Em certo dia de vale night, fui ao Asiático comemorar o aniversário de uma amiga em dia de jogo da Argentina em Brasília. Resultado: uma bolha de argentinos explodiu dentro da boate e sabe lá Deus porque, 90% deles encasquetaram com a ruivinha que vos escreve. Os hermanos, devo dizer, ao contrários dos alemães, são bem mais parecidos com os brasileiros (mais do que gostaríamos até, diga-se de passagem). Eles não deixam nada a desejar no quesito pegada e beijo caliente, mas também estão bem familiares com o processo de tentar te convencer a dar "um fugidinha" e, não conseguindo, dão o velho e bom (??) perdido. Sem me importar muito com fidelidade na Copa do Mundo (afinal, essa Copa do Mundo foi um verdadeiro carnaval em pleno meio do ano!), experimentei Chemichurri, chorizo e porque não, só para não perder o costume, um molho de dendê. Minha amiga foi direto na França experimentar um crepe suzette, mas reza a lenda que era tão decepcionante quanto o alemão. Preciso saber se os Europeus latinos (italianos e espanhóis) são igualmente fracos! Mas acho que essa vai ficar para uma outra ocasião...!

Meu romance com o alemão estava fadado ao fracasso, pois a química era quase inexistente. Ele me adorava, me tratava com uma rainha e isso era bom para mim. Eu gostava da companhia dele, de ser vítima do fetiche dos gringos pela mulher brasileira e de usar toda minha marra para tirar onda com ele, mas o essencial me fez muita falta. Carreguei até onde deu, mas nosso fim foi bem menos legal que nosso começo.

A verdade é que os gringos europeus (e nosso querido coreano) foram fofos e a melhor parte dessa Copa, pois a amizade que construímos não tem preço. Porém, ficou-se mais que provado que o Latino Americano é realmente o dono do maior borogodó e que no fim das contas, "com brasileiros não há quem possa...". Porém, variar o cardápio não faz mal, e ainda pretendo provar muitos sabores desse nosso mundão de meu Deus...!

Bon apetit!